quarta-feira

Entrevista - Competência, "excesso" de trabalho e carreira

Olá gente!

UOL publicou esta semana artigo da jornalista Heloísa Noronha : "Sua competência só lhe rende mais trabalho? Saiba como dar um salto na carreira". Abaixo a entrevista concedida à Heloísa, na íntegra.

Vamos aproveitar o post e iniciar série de fotos em tributo e incentivo ao artesanato, outra de minhas paixões.

Bjs e até!



Por que, em muitos casos, quem é extremamente competente acaba sendo recompensado com aumento de... TRABALHO?

Muitas vezes o profissional competente sente-se recebendo uma punição, quando situações como essa acontecem. Equipes descomprometidas, líderes despreparados, ausência de ‘job rotation’ são alguns dos elementos que contribuem para situações como esta. Quando a equipe é pouco engajada ou colaborativa, é “mais fácil” ao gestor direcionar as atividades a quem tem confiança e sabe que haverá a entrega prometida. O líder também deve estar atento para não sobrecarregar poucos colaboradores, os mais engajados, comprometidos e cumpridores, porque a desmotivação é apenas uma questão de tempo.


Essa é uma característica do mercado de trabalho brasileiro? Como combatê-la?

Tudo indica que sim, uma vez que os brasileiros são avaliados como flexíveis e adaptáveis. Aqui cabe uma nota sobre a diferença entre ser flexível e adaptável: o primeiro encontra novos caminhos, novas soluções, o segundo consegue resultados nestes novos caminhos. Assim, o brasileiro leva vantagens sobre outros povos neste quesito: faz o trabalho do outro, bem feito, com resultados positivos. Sem generalizações...


A rapidez, associada à qualidade, pode ser uma inimiga? Explico: quem entrega rapidamente um trabalho de qualidade acaba se tornando o "pau para toda obra" do escritório e trabalhando em dobro. Por que isso acontece?

Sim, acontece frequentemente. Volto à 1ª questão sobre a importância do gestor / líder. Já que a empresa precisa de resultados, qualidade e rapidez, delega a quem acredita. Por isso é um fardo ao colaborador, ao invés de reconhecimento. A empresa, por sua vez, também precisa acordar para esta realidade, pois profissionais com este perfil são bem-vindos em qualquer organização.


E o contrário: quem se dedica e acaba ficando depois do horário pode passar uma imagem negativa, mesmo sendo competente? Por que?

Empresas americanas e europeias primam pelo cumprimento do horário de trabalho, incentivando a qualidade de vida dos colaboradores e o convívio familiar. No Brasil já estivemos pior, com poucos limites em relação a isso. Hoje têm-se o consenso que o colaborador deve fazer muito bem seu trabalho, com qualidade e rapidez, durante sua jornada. Se precisar ultrapassar ou mesmo levar trabalho para casa, é avaliado como incompetente, pois não consegue ser produtivo em seu período de trabalho. Algumas organizações, no entanto, esquecem da carga de trabalho que, não raro, é superior às entregas que o colaborador deve e precisa fazer em sua jornada.


Podemos dizer que, em geral, as pessoas competentes não recebem aumento porque simplesmente não pedem? Ou por que os empregadores acham cômodo deixá-la na mesma posição?

Temos os dois lados. O colaborador acredita que não deve pedir, deve ser reconhecido sem chegar a este ponto. É o ideal e ainda falta muito para ser praticado por todos. Pelo lado da empresa, alguns gestores vêm como “obrigação” e outros, simplesmente, ignoram que um reajuste salarial pode ser um sinal de reconhecimento pelo ótimo desempenho. Acredito que isso aconteça porque o valor financeiro ainda é valorizado antes da motivação e reconhecimento ao colaborador. Daí a comodidade em deixar como está.

Há um terceiro grupo de gestores / empresas, que consideram inapropriado ou inadmissível um colaborador pedir aumento. Nestes casos, mesmo com direito, o colaborador pode ser “colocado de lado”. É injusto e muito real.


A competência pode não funcionar se não vir acompanhada por determinados atributos? Que atributos seriam esses? Como aprimorá-los?

Nenhuma competência se sustenta sem “automotivação”, comprometimento, interesse e paixão. Há outros quesitos, como o financeiro, porém um profissional que considera apenas este último, dificilmente tem desenvolvido satisfatoriamente os atributos anteriores. O salário não sustenta a motivação; é só uma questão de tempo para o profissional se sentir desmotivado novamente. Quando o profissional faz o que gosta e/ou gosta do que faz, naturalmente desenvolve a tal “paixão” pelo trabalho, que gera motivação, interesse e comprometimento. “Simples” assim. Portanto, em uma resposta simplista, para manter a competência em alta “basta” saber o que gosta de fazer, buscar essa realização e, aqueles que não conseguem esse ideal, aprenderem a gostar do que fazem.


E quais características acabam ofuscando a competência? Exemplos: introversão, falta de ambição, etc. Como reverter o quadro?

Entre as mais impactantes estão arrogância, prepotência, egocentrismo, falta de empatia e compreensão do outro. O quadro pode ser revertido se e quando o profissional conseguir, primeiro, desenvolver a empatia, que é a capacidade de colocar-se no lugar do outro, sem perder suas próprias referências. Desta forma consegue entender e compreender quem está ao seu redor. A partir daí o egocentrismo diminui (porque ele não é mais o centro do universo), consegue dar mais ouvidos e atenção genuína aos outros, que podem alertá-lo quanto à sua arrogância, prepotência. Tudo isso só acontece se, e apenas se, o profissional quiser e estiver aberto a estas mudanças, que são drásticas e profundas para quem tem este tipo de perfil.


Foto: Feira da Troca, de Olhos D'Água, Goiás. Artesanato Local.

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